CRIANÇA PEDE AJUDA A PAPAI NOEL PRA TIRAR SUA MÃE DO MUNDO DAS DROGAS.

A carta pede ajuda. É de um adolescente que já sabe: o Papai Noel não tem barba branca e mora no Polo Norte. Ainda assim, acredita em “padrinhos de Natal”, dispostos a realizar sonhos.
Pedro, 14 anos, - nome fictício - já pediu carrinhos, bolas, cordas e sempre foi atendido, por isso não hesitou em tentar mais uma vez. Além do mais, escrever a carta e entregar aos Correios de Fernandópolis, onde mora, foi a única alternativa encontrada por ele para tentar salvar a mãe do crack. Pedro já sabe: aquele velhinho de roupas vermelhas não existe. Mas uma coisa é certa. Se existisse, se surpreenderia. Talvez ele nunca tivesse recebido uma cartinha como essa. 
“Eu estou te escrevendo hoje porque eu não quero um presente, mas estou pedindo se você pode me ajudar a internar minha mãe. Porque ela precisa para sair das drogas e a clínica paga é muito cara e eu e minha família não pode pagar (sic) ”, diz em letras de forma o pedido escrito nas folhas do caderno da avó. Pedro pediu que ela levasse a cartinha aos Correios, mas não disse do que se tratava. “Quando eu li, não acreditei”, relata ela. O tênis de Pedro está velho, mas o menino não teve dúvidas no seu pedido. “O tênis eu posso ganhar depois”.
Pedro é mesmo um menino especial. Gosta de pingue-pongue, não de futebol como a maioria dos garotos de 14 anos. Na escola é fã de História, principalmente pelas confusões de D. Pedro II. Aos 14 anos, já sabe o que quer da vida: “ser dentista, como a minha tia”. E tomou uma decisão que muita gente grande teria medo de tomar. Há 15 dias, saiu de casa e foi morar com a avó, tentando encontrar alternativas para cuidar da mãe, viciada em crack há três anos.
Drama Ela costumava sair de casa e deixar os outros dois filhos pequenos, de 8 e 6 anos, com Pedro. “Eu pensei que se eu saísse ela não teria como deixar eles sozinhos mais”. O garoto sabe que a mãe usa crack, já presenciou. “Ela tenta sair, mas não consegue. Está sofrendo”, ele diz. O adolescente não tem revolta. Tem pena e tristeza. “Se ela conseguir internação, sai dessa”, diz confiante. No tempo em que estava na casa da avó teve a ideia da carta. Todo ano, o Correio faz uma campanha de Natal, em que as crianças enviam cartinhas com pedidos e a população pode retirar e atendê-los. Foi dessa forma que, por muitos anos, Pedro ganhou presentes no final do ano. Uma funcionária da Santa Casa de Fernandópolis retirou a carta de Pedro e, tanto quanto Papai Noel faria, se surpreendeu com o pedido. Encaminhou para a diretoria do hospital e para o juiz da Infância e Juventude, Evandro Pelarin que, também inconformado, resolveu acionar o Conselho Tutelar e divulgar o caso em uma rede social. “A intenção é que a sociedade saiba o mal que as drogas fazem para uma família”, afirmou ao Diário.Presa ao vício A mãe de Pedro sabe bem do que fala o juiz Pelarin. Aos prantos, ela diz que não consegue sair do vício. “Esse bagulho é difícil. Eu tô no fundo. Sem ajuda, não vou conseguir”. Ela lamenta. Não esperava a carta de Pedro, mas há tempos sabe do sofrimento do filho. “Eu vi na cara dele que ele estava sofrendo muito. Eu chorava e falava para ele: ‘eu não consigo, meu Deus, me ajuda!’. E ele chorava junto.” Enquanto ela fala, os irmãos de Pedro observam atentos. “Eles sabem de tudo que eu estou passando”. Pouco depois, ela admite que na tarde de ontem já havia fumado três pedras de crack. “Enquanto tem, eu uso. Passo dia e noite usando.” Na manhã de ontem, uma das funcionárias da Santa Casa disse que aguardava confirmação de uma das clínicas procuradas para ajudar no caso. À noite, a família disse que estava quase certo a internação, que deve ser em uma clínica de Jales ou de Estrela d’Oeste. Este ano, o Papai- Noel há de ser rápido com Pedro. O presente há de chegar antes do Natal. “Agora eu acredito mais ainda. Já sabia que ia dar certo”, comemora o menino. “Eu quero sair. Jamais eu gostaria de estar numa situação dessas”, garante a mãe, certa de que, para o presente ser completo, sua força de vontade é essencial.
‘Tô num buraco sem fim’, diz a mãe
O sonho de Ana, 31 anos, - nome fictício - é voltar à vida que um dia teve. Aquela que Pedro conheceu, durante a infância. “Não teve mãe mais amorosa que eu. Eu era trabalhadora, mãezona mesmo. Fazia de tudo pelos meus filhos. Me ver nessa situação é bravo”. Foi há três anos que ela usou crack pela primeira vez, no aniversário de 12 anos da filha mais velha, que hoje tem 15 anos. “Meu ex-marido me deu (droga). Disse que tinha um negócio bom para a gente”, ela lembra. O marido também usou por um tempo, ela diz. O casamento acabou há cinco meses, por causa da dependência química de Ana. Antes do crack, ela usou maconha e cocaína. Ana conta que nos dias que não usa sente angústia e desespero. Parou de trabalhar e deixa os filhos, na maior parte do tempo, na casa da sogra, a avó que acolheu Pedro. “É terrível. A gente chega num ponto que não tem mais controle. Tô num buraco sem fim. Só quero me livrar disso”. desabafa. Os dois filhos pequenos não desgrudam da mãe enquanto ela relata seu drama. A mais nova arregala os olhinhos, olha para cima, senta no chão, em frente ao portão, e apóia a cabeça nas mãozinhas. “Você não tem medo de eles usarem drogas também, por conviverem com esse mundo?”, pergunta a reportagem. “Eu falo pra eles de tudo que tá acontecendo. Sempre deixei claro. Eles sabem disso. Você viu o Pedro?”, ela responde.Reprodução Portal  Daniela Penha