PMs acusados da chacina de Messejana passam por dias de tormento, incerteza e abandono. Desprezados pelo Comando da Corporação, recebem até comida estragada

Por trás dos velhos e pesados portões de ferro do Presídio Militar, no histórico Quartel do 5º BPM, no Centro de Fortaleza, os 44 PMs nutrem um sentimento de injustiça, revolta e também depressão

Um ambiente fétido, escuro, pouca ventilação, propício ao surgimento de doenças respiratórias e de pele, contaminação, além de comida estragada e que sempre chega atrasada horas a fio, além da falta de atendimento médico e psicológico por parte da Corporação.

Este é o ambiente e condições a que estão submetidos 44 policiais militares  cearenses – entre eles, uma mulher – presos judicialmente  sob a suspeita de envolvimento na chacina que deixou 11 mortos na Grande Messejana, em novembro do ano passado.

Com prisão preventiva decretada pela Justiça há duas semanas, após serem denunciados pelo Ministério Público Estadual (MPE) por crimes diversos como homicídios, tentativas de homicídios, formação de bando, além de torturas físicas e psicológicas, os 44 militares agora passam por constrangimentos físicos e psíquicos e estão literalmente jogados às traças pelo Estado a quem serviam há bem pouco tempo.

Alguns dos PMs estão em estado depressivo. Vários tiveram que trancar ou cancelar a matrícula em faculdades. Outros perderam os “bicos” que eram obrigados a fazer para complementar a renda familiar, diante dos baixos e humilhantes salários pagos pelo Governo do Ceará à tropa.  Alguns haviam recebido há pouco tempo elogios na Corporação, alguns deles por terem feito até mesmo partos dentro das viaturas.

No obscuro e sombrio ambiente em que se encontram, os militares vivem um tormento. São longos e insones dias de dúvidas, temor e, também, injustiça para alguns. Aqueles que dizem ser inocentes alegam terem sido “arrastados” por uma denúncia do MPE feita de forma  generalizada, e que não tiveram nenhuma participação nas mortes das 11 pessoas nos bairros Curió, Lagoa Redonda e São Miguel naquela fatídica madrugada do dia 12 de novembro de 2015.

Sem voz

É o caso, por exemplo, de policiais da Coordenadoria de Inteligência Policial (CIP), que  estavam se serviço – no plantão 24 horas – e foram mandados aos locais dos crimes cumprindo determinação superior (acionados pela coordenação do Comando do Policiamento da Capital/CPC, via Ciops) para fazer levantamentos que iriam subsidiar relatórios a serem entregues nas horas seguintes ao Comando-Geral da PM. Da mesma forma, PMs que estavam à serviço do Regimento de Polícia Montada (Cavalaria).

Esses policiais alegam que, sequer, foram ouvidos durante a apuração dos crimes. Mas,  acabaram surpreendidos quando receberam a informação de que tiveram prisões decretadas pela Justiça à pedido de 12 promotores que assinam  a denúncia criminal. A decisão dos promotores foi  baseada em provas colhidas ao longo de nove meses de investigações feitas pela Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos da Segurança Pública e do Sistema Penitenciário (CGDOSPSP).