Sobral é pioneiro em ação ambiental para o semiárido

Compreender os fluxos da natureza é a estratégia que pode revolucionar manejos no sertão nordestino
Sobral. A localidade de Puba, no distrito de Taperuaba, será o primeiro local a receber o Projeto Conceito Base Zero nos moldes originais fora da propriedade do idealizador da tecnologia, engenheiro mecânico José Artur Padilha. O projeto visa a autossustentabilidade de água no semiárido. Porém, o método pode ser implantado em qualquer ambiente.

Zé Artur e produtor Antônio França na visita à localidade que vai sediar projeto fotos: Jéssyca Rodrigues

A primeira parte da implantação iniciou no fim de semana, quando Zé Artur, como prefere ser chamado, realizou uma visita técnica a para o reconhecimento do local a fim dar início à tecnologia ambiental. A visita contou com técnicos da Prefeitura Municipal de Sobral, Ematerce, Instituto Federal do Ceará e da Universidade Estadual Vale do Acaraú e foi realizada no último sábado.

O engenheiro conta que essa foi sua primeira visita à localidade, que conhecia antes apenas por algumas fotos. Ele aproveitou a oportunidade para se inteirar da realidade dos agricultores que ali moram. Desenvolvedor do Base Zero, Padilha explica que a teoria pode ser adaptada para qualquer ambiente. Ele se reconhece como "desenvolvedor" porque atribui a criação à própria natureza. "Isso acontece porque não é uma teoria humana, e sim natural. É colocar a natureza agindo a favor dela mesma, construindo de forma mais rápida o que ela levaria décadas para fazer", destaca.

Segundo ele, o conceito nada mais é do que obter o máximo de aproveitamento de energia em uma área agrícola e ajustar as condições do terreno ao fluxo natural da água. "É muito importante respeitar a ordem natural das coisas. Se um rio tem um fluxo, só nos adequamos a ele. Nunca interrompendo ou modificando".

Origem
Natural de Pernambuco, foi em sua fazenda em Afogados da Ingazeira que ele começou com o projeto há mais de quase quatro décadas. Com o conceito, o engenheiro espera resolver o problema da escassez de água na região do Semiárido. Com custo baixíssimo, ele afirma que não é preciso nada mais do que pedras para a iniciar.

"Através da construção de barragens subterrâneas em forma de arco romano deitado, a água é armazenada debaixo do chão, praticamente livre da salinização e da evaporação que há mais de um século tornam os mananciais de superfícies, como os açudes, fragilizados diante do nosso clima. Os estudos indicam que a 60 centímetros da superfície, a evaporação é quase zero. A um metro, é inexistente", aponta o engenheiro.

Em relação ao formato das barragens, Padilha explica que o formato de arco romano deitado é feito exclusivamente com pedras do local, arrumadas de modo que formem uma estrutura de quase compressão pura.

"Em série, eles acabam formando platôs por conta da erosão natural provocada pelas chuvas nas encostas adjacentes", explica ele.

José Artur conta ainda que a experiência vem sendo realizada nos 600 hectares da Fazenda Caroá, sua propriedade, com resultados extremamente positivos. Além dele, todos os seus vizinhos utilizam a água, que corre encanada e conta apenas com a força da gravidade. São 20 quilômetros de encanamento que garantem água durante todo o ano nos 50 bebedouros encontrados na propriedade.

Para ele, a oportunidade de expandir de acordo com os moldes originais está sendo uma grande recompensa. "Eu penso no Base Zero como algo grande, que se for implantado conforme o conceito, pode revolucionar a vida do agricultor em qualquer região, mas principalmente no semiárido nordestino", destaca.

Segundo o coordenado­­ técnico da Secretaria de Agricultura e Pecuária do Município, Pedro de Alcântara Pitombeira Maia, a Prefeitura esteve em comitiva com outros órgãos visitando a propriedade do engenheiro após Primeira Conferência Científica da Iniciativa Latino Americana e Caribenha de Ciência e Tecnologia (ILACCT), que aconteceu em agosto na cidade.

Intercâmbio
"Esse foi o nosso primeiro contato com o Projeto Base Zero, quando estreitamos laços com Padilha e realizamos esse intercambio de conhecimentos. Puba apresentava a necessidade de um projeto desses, assim como outras áreas, e por isso decidimos começar por ela, que já tem outros programas da Secretaria de Agricultura. Contamos com ajuda de toda a população, cerca de 40 famílias, e da técnica em Meio Ambiente, Géssica França, que mora aqui com os pais, ambos agricultores".

O professor universitário e coordenador da Incubadora de Empreendimentos Solidários da UVA, Francisco Guedes, acompanhou tanto a visita a Pernambuco quanto a Puba, e afirma que universidade está comprometida com a sociedade. "Realizamos o acompanhamento de grupos associativos, com cursos, oficinas e similares. O Base Zero se enquadra dentro da Economia Solidária, utilizada pela incubadora para ajudar ativamente a sociedade. Nossa expectativa é de que tanto a fazenda do Padilha quanto o projeto em Puba possa se tornar mais um laboratório social para os alunos enquanto eles trabalham para a sociedade", destacou.

Mais informações
Secretaria de Agricultura e Pecuária de Sobral, Rua Viriato de Medeiros 1205 - Centro
Telefone: (88) 3611.5835
agricultura@sobral.ce.gov.br.

JESSYCA RODRIGUESCOLABORADORA

Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1337185

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